América Latina: o laboratório de experiências capitalistas do mundo.
Chile, 1973, Augusto Pinochet, um dos piores ditadores da história da américa latina realiza um golpe de estado e implanta um sistema novo, amparado pelos “Chicago Boys”, o neoliberalismo.
É claro, o neoliberalismo, enquanto corrente de pensamento hegemônico já havia sendo gestado a muito tempo, por dezenas de teóricos que a serviço do capital ansiavam pelo fim de governos protecionistas, nacionalistas, sociais democratas e pelo fim das crescentes ideias socialistas, mundo à fora.
A forma que o mundo estava arquitetado não servia ao capital monopolista e ao imperialismo, que, ansiando dominar o Sul global, queria a liberdade econômica e o fim de um estatismo forte, que favorecia ao capital nacional. Para os países do norte o neoliberalismo era a saída para os direitos que a agitação comunista havia conquistado no mundo.
Mas, como saber se um novo modelo econômico irá dar certo? Implementá-lo de cara nos países dominantes do norte era uma aposta muito grande. O capitalismo estava em crise e o preço à se pagar poderia ser muito alto.
A solução? Implementação do modelo neo liberal em um país periférico, na pequena economia sul americana cuja população estava cada vez mais radicalizada, o Chile. Pinochet era apenas uma figura simbólica, um fascista qualquer. No lugar dele poderia ser qualquer outro. Mas, ele aceita conduzir a missão de — subordinado aos interesses estadunidenses — levar o Chile à um regime autoritário e implementar o neoliberalismo, a duras penas, no país. As consequências do modelo implementado serão as mais diversas. Mas, dosado com uma boa “mão de ferro” fascista, deu certo.
Pouco depois, na Inglaterra, a “dama de ferro” levará o modelo para o norte global e o resto da história nós conhecemos até hoje. O neoliberalismo é o modelo dominante no mundo atual. Do Brasil à Singapura, Africa do Sul à França, o neoliberalismo é o modelo econômico ao qual estamos sujeitos. Um modelo que privatizou as nossas vidas, bebendo-as como milk shake, e nos deixou à mercer dos cuidados atenciosos do mercado.
Bom, o antagonismo ao capitalismo está em crise, a esquerda está em crise. O neoliberalismo se entranhou em nossas organizações a tal ponto que já não há distinção entre direita e esquerda. E, um novo regime talvez se mostre “útil” para o capital: o bizarro distópico anarcocapitalismo.
E, mais uma vez a direita usa sua velha tática: por meio do fascismo elege um presidente comprometido com o programa anarcocapitalista, apoiado pelo banco mundial, FMI e outras organizações burguesas hegemônicas, representantes dos Estados Unidos. Esse presidente? Javier Milei. E o país? A sul americana Argentina.
Javier Milei, em pouco tempo de governo tenta fazer uma mudança estrutural, visando, resumidamente o fim do Estado, da nação. Argentina se torna mais do que um paraiso fiscal, torna-se um local onde tudo pode para quem pode. E os trabalhadores perdem direitos essenciais: à greve, a moradia segura, a relações trabalhistas. O objetivo é acabar com a regulamentação burguesa, com as leis. O livre mercado se torna um “anarco” mercado (perdoem-me os anarquistas que se reviram com esse uso da palavra anarco). Por isso, a resistencia do povo argentino é crucial. Estão em greve, greve geral, mais de 130 mil pessoas paralisadas em Buenos Aires, mas, com pouco efeito. A ação precisa ser maior, mais mobilizada. Pois, a derrota do anarco capitalismo de Milei na Argentina representa uma derrota da experiência de laboratório anarco capitalista no mundo. Os olhos estão voltados para a Argentina, os nossos e os dos poderosos.
Como diriam as feministas Argentinas: se va a caer.
Lara Marinho, professora de história, mestranda na PPGH-UFG, estudante de direito.