La femme rompue … — A Mulher Destruída e a Importância de se afirmar feminista até o fim da vida
Iniciei essa leitura pela minha avó. Queria entender o porquê. Ou os porquês. Se é que existe alguma explicação. Eu queria saber que força avassaladora e cruel é essa que costuma varrer a existência das mulheres do mundo de uma forma tão silenciosa que ninguém entende. E as transforma em pó. Em 1967 , com quase 60 anos de vida, Simone de Beauvoir também tentava entender, e escreveu sobre isso. Como uma Mulher à frente de seu tempo, escancarava a questão da angústia e o tabu do envelhecimento da Mulher em um mundo patriarcal. Homens à medida que envelhecem são valorizados, vistos como sábios e experientes Mulheres envelhecem e são chamadas de bruxas , condenadas ao ostracismo. O envelhecimento dos homens é incentivado o de mulheres é repreendido.
Vivemos sob a pressão de uma bomba relógio. Em certa idade da vida essa bomba explode e desaparecemos, não somos mais úteis.
Nossos sonhos, nossos ideais , nossa vida … serão mesmo tão nossos assim ? Somos verdadeiramente livres nesse mundo patriarcal? Há muitas formas de fazer mulheres desaparecer. O confinamento está sempre à nossa espera.. Burca, casamento, cuidar da casa , dos filhos… somos tão importantes e ao mesmo tempo tão desvalorizadas…
Em três contos independentes Simone escancara o desmoronamento e a ruína da vida de três mulheres francesas , cada uma em um contexto particular hostil. Mulheres que, em certa idade da vida, percebem que nunca escolheram por si mesmas, sempre acostumadas a viver para servir ao marido e filhos, deixando-se levar nesse jogo patriarcal de escravidão doméstica e subserviência. Nesse livro que é, acima de tudo, um convite a reflexão, a mensagem que Simone nos deixa, a nossa Filósofa da Liberdade, é que, contra nossa vontade ou não , o tempo passa.. e é urgente que tomemos as rédeas de nossa própria vida, protagonizemos nossa história , sejamos Nossas antes de mais nada.
Parafraseando a incrível feminista Rebecca Solnit
“Ser alguém que FAZ não alguém que Limpa. Alguém que conta sua história que dá nome às suas filhas , irmãs e avós… e não as deixa desaparecer. “
Assim sendo, cumpro essa tarefa. Escrevo pela minha avó, Dona Goreth, mulher forte insubmissa, minha primeira feminista. Minha Avó Aranha …
Por Clara Barros, feminista radical e autora do blog, Refúgio de Lilith
Ps: alterei o título do livro pois o brasil tem editores tão machistas que nem traduziram o título da obra com decência, em seu sentido original “Rompue” em francês, pode significar “rompida, destruída , devastada” mas jamais “desiludida” dando assim a impressão da obra se tratar sobre relacionamentos falidos, quando na verdade é bem mais abrangente.